Contraditório
PSD
Carla Rodrigues *
Só foge do diálogo quem teme a verdade. A verdade desinstala, apoquenta, tira-nos o sono e abala-nos as certezas. Só há duas formas de lidar com a verdade: ou a enfrentamos, ou a evitamos. Para a enfrentar, temos de ouvir as pessoas e as suas razões.
Vem isto a propósito da decisão da câmara municipal de instalar o mercado provisório no parque de estacionamento de uma grande superfície comercial. A decisão foi apresentada como um facto consumado e não agradou a ninguém. É do outro lado da cidade, longe do centro, dentro de um hipermercado, com parcas condições e sem data conhecida.
O mercado municipal é muito mais do que um local de comércio. É um símbolo, é uma identidade, é o coração da cidade. O mercado é de todos. Ninguém questiona a necessidade de uma profunda remodelação e modernização daquele espaço, por isso o processo podia e devia ser o mais consensual possível. Mas não foi. Os vendedores não foram ouvidos, os compradores também não e os comerciantes do centro da cidade muito menos. A notícia chegou fria pela voz da comunicação social. Não houve diálogo. Temeu-se a verdade.
Foi assim com o mercado, foi assim com as medidas de apoio ao comércio tradicional, aprovadas sem ouvir os comerciantes e a associação que os representa, foi assim com a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, transferida para um edifício sem as condições para um serviço daquela natureza, foi assim com a instalação do centro de vacinação dentro de uma escola à revelia da comunidade educativa, foi assim no processo de expropriação dos terrenos para a ampliação da zona industrial de Loureiro… tem sido assim, demasiadas vezes. O Papa Francisco diz: “A falta de diálogo supõe que ninguém está preocupado com o bem comum, mas em obter as vantagens que o poder lhe proporciona ou, na melhor das hipóteses, em impor o seu próprio modo de pensar”. Eu não diria melhor.
* Presidente da Comissão Política Concelhia do PSD
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