23 May 2022
Bruno Aragão *
Ferreira de Castro nasceu precisamente neste dia, 24 de maio. Só em 2033 se repete a coincidência de calhar a uma terça-feira, dia em que é publicada esta crónica. Aproveito a oportunidade para o evocar e falar do seu Centro Interpretativo. Gerou alguma polémica, como é natural no que nos apaixona, mas merece reflexão.
1. A ideia de um Centro Interpretativo é antiga, mas, como muitas coisas em Oliveira de Azeméis, nunca passou disso mesmo.
2. A Casa-Museu degradou-se e dificilmente cumpre requisitos museológicos. Se, numa tarde de outono a quiser visitar, terá sérias dificuldades. Não tem qualquer sistema de eletrificação ou iluminação, só para dar um exemplo.
3. A Quinta há muito que é sementeira das ervas do acaso das estações.
4. A Biblioteca esteve sem qualquer requalificação anos e anos. Os livros que Ferreira de Castro lhe entregou e ali organizou foram há muito retirados por falta de condições. A imaterialidade dessa organização possivelmente já se perdeu.
5. Sabemos como chegamos a este estado. A explicação é a mesma para este e para muitos outros problemas. Pouca denúncia houve. Projetos, nenhuns.
6. O espólio que ali temos é importante, mas precisa de ser continuamente aumentado e alimentado. Precisa de enquadramento, de interpretação e de programação constante. Não se trata de paredes, nem dos sapatos em cima de um baú. É antes uma mensagem profunda sobre justiça social, sobre a errância do Homem e sobre um mundo melhor.
7. Ouvi muitos argumentos contra este Centro Interpretativo, mas nenhum que refute o estado a que chegamos e o impacto que isso teve na memória e na mensagem do escritor. E há, na reflexão pessoal e silenciosa que todos podemos fazer, uma convicção que rapidamente nos nasce. Ferreira de Castro e a sua família ficariam certamente agradados com a atenção que finalmente lhe estamos a dar e com o esforço de perpetuar toda a sua humanidade. Tenhamos a humildade dessa coragem, quando é tempo.
* Presidente da Comissão Política Concelhia do Partido Socialista