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Correio de Azeméis

31 Jan 2022

José António Pinto de Carvalho nasceu há 200 anos

António Magalhães

António Magalhães

 

António Pinto de Carvalho nasceu no lugar de Porto de Vacas, da freguesia de Ul, em 4 de Janeiro de 1816, e logo aos cinco dias de vida baptizou-o o abade João Pereira de Melo. Ainda que de família de posses, emigrou jovem para o Brasil, contrariando a opinião generalizada de que só os mais desfavorecidos deixavam o país.
Não é conhecida a actividade desenvolvida, mas sabe-se que em 16 de Setembro de 1856, aos quarenta anos de idade, e senhor de avultada fortuna, fundava, em Ul, com a esposa Maria Rosa de Jesus Carvalho, o então Asilo da Infância Desvalida, embrião do actual Centro de Apoio Familiar Pinto de Carvalho. Numa apalaçada moradia que se mantém e onde vivera seu avô José Pinto de Carvalho. 
Atrevo-me a sugerir que o casamento possa ter contribuído para a situação económica: Maria Rosa era natural do município de Magé, fundado em 1566 por colonos portugueses, com um porto de mar onde os navios negreiros descarregavam legiões de escravos, e que viria a ser a segunda cidade mais antiga do Estado do Rio de Janeiro, logo a seguir à capital. Ser-me-á permitido admitir que Maria Rosa pertencesse a família de posses e prestígio, facilitando, assim, o sucesso do marido.
D. Pedro V aprovaria, em 1859, os estatutos, e os instituidores fizeram-lhe doação, em 1860, de todos os foros, censos e pensões que constituíam o Morgado e Honra de Tonce em Loureiro, comprado ao Padre Filipe de Albuquerque Pinto e Castro e Nápoles, e ainda os foros da extinta Comenda de Rio Meão, vendidos em haste pública em 1858. Rendimentos que, no primeiro caso, se estendiam pelas freguesias de Loureiro, Avanca, Bunheiro, Salreu, Beduído, Branca, Lordelo e O. Azeméis, e no segundo por Rio Meão, Ribeira de Fráguas, Esmoriz, Lamas, Nogueira da Regedoura, Madail e Ul.
A morte do instituidor António Pinto de Carvalho, em 1862, no verdor dos quarenta e seis anos de idade, a negligência de uns e os abusos de outros conduziram à destruição destes rendimentos, indispensáveis à vida da instituição. E quando o Dr. Ernesto Pinto Basto, grande benfeitor da casa, membro da Câmara Municipal e advogado de reconhecido mérito, quis proceder contra os foreiros remissos, era já demasiado tarde, vivendo a instituição tempos das maiores dificuldades.  
Entretanto, o Asilo transferiu-se, em 1860, para o palacete da Farrapa, pertença dos instituidores, mantendo-se aí até 1912, momento alto com a inauguração de edifício próprio, esforço arrojado para o qual muito contribuiriam Camilo Pacheco da Costa Ferreira, adquirindo o terreno a expensas suas, e o inesquecível oliveirense Dr. Bento Carqueja, incansável no apoio a uma obra com especial lugar no seu coração. 
Disposições legais conduziram a que o Asilo passasse a usar a designação de Lar Pinto de Carvalho, e já nas actuais e modelares instalações, inauguradas em 2005, ocupando um vasto edifício repartido por cinco andares, seria reconvertido na actual designação de Centro de Apoio Familiar Pinto de Carvalho, com enorme desenvolvimento dos serviços prestados à comunidade. 
*
Regressando ao passado, Maria Rosa de Jesus Carvalho, viúva e sem filhos, casaria em segundas núpcias com José António Pinto de Carvalho, irmão do primeiro marido, nascido também em Porto de Vacas, freguesia de Ul, no dia 28 de Janeiro de 1822. Há precisamente duzentos anos, recordação que sugeriu este apontamento.
Resistente, Maria Rosa ficaria viúva mais uma vez, com a morte do segundo marido, em 27 de Fevereiro de 1889, aos sessenta e seis anos de idade, falecido acidentalmente na residência que possuíam na Rua de Sá da Bandeira, na cidade do Porto. 
Deste casamento nasceram dois filhos, sendo que o filho José Pinto de Carvalho foi pai de Clotilde Pinto de Carvalho, nascida no dia 30 de Março de 1882. Com apenas dezassete anos de idade, o abade da nossa matriz de São Miguel, padre Serafim Moreira de Sá Couto, casou-a, em 10 de Agosto de 1899, com o pintor e ceramista Leopoldo Luigi Giuseppe Battistini, nascido em 12 de Janeiro de 1865 na província italiana de Ancona, em Itália (o noivo contava precisamente o dobro da idade da noiva). Battistini era, então, professor da Escola Industrial Brotero, em Coimbra, e viveu no nosso país cerca de 47 anos, desde 1889 até à morte, em 1936, deixando valiosa obra artística, granjeadora de inúmeras distinções.
 Um casamento que terminaria em divórcio pronunciado por sentença de 1912, e Clotilde casaria em segundas núpcias com Carlos de Faria Milanos, 2.º Barão de Cadoro. Figura grada do nosso exército, morreu, aos 52 anos, no posto de coronel, com presença na grande Guerra, integrado no Corpo Expedicionário Português. Seria de grande cultura, pois que, destacado em Macau, leccionou inglês no liceu local. No nosso cemitério municipal, frente à capela, encontra-se um enorme bloco granítico, derradeira homenagem da viúva; desgastados pelos anos, lêem-se com grande dificuldade o nome e o brasão de armas concedido por D. Carlos, em 1893. 
Clotilde Pinto de Carvalho usaria, pelo segundo casamento, o título de Baronesa de Cadoro. Neta, como atrás se diz, da instituidora do então Asilo da Infância Desvalida, no actual Centro de Apoio Familiar Pinto de Carvalho conserva-se a tela de 1904 em que as mãos ágeis de Battistini perpetuaram a rara beleza daquela que terá sido a sua grande paixão. 
(Escrito segunda a anterior ortografia)

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