Tradição adiada?

Helena Terra Opinião

Helena Terra * A saudade é imensa, a vontade cresce a cada dia e a esperança mantém-se… Digo isto a propósito do último fim de semana que, não fora o maldito bicho que não vemos, seria fim de semana de Mercado à Moda Antiga. Um evento que é tão oliveirense, tão querido e tão nosso que já nos identifica como comunidade. Já lá vão dois anos sem que se realize o Mercado à Moda Antiga. Não se realizou em 2020, nem em 2021. Do mesmo modo, não se realizaram outros eventos de cariz lúdico e cultural que são importantes para reforçar o sentimento de identidade e de partilha das nossas gentes. No ano passado, não tivemos as tradicionais festas e romarias que movimentam meios importantes para as economias locais, que aproximam as pessoas, que potenciam o regresso e a visita dos oliveirenses que estão fora de Oliveira de Azeméis, mas que continuam a identificar-se com as suas terras, as suas tradições e as suas raízes. Não fossem as restrições impostas pela situação de pandemia e este teria sido um fim de semana em que teríamos a nossa cidade agradavelmente invadida pelo cheiro das iguarias com que habitualmente nos deliciamos todos os anos. Seriam muitos os tachos de cobre montados em trempes de ferro sobre achas de madeira sem casca, para não fazer fumo, a cozinhar os apetitosos rojões. As papas de vinha d’alho bem quentes. As tigelas de caldo verde fumegante e os jarros de barro com vinho de boa qualidade. A broa seria consumida em grande quantidade e as iguarias doces atariam os molhos, como por cá se dizia em tempos idos. As saias rodadas das senhoras e meninas e as blusas alvas rendadas, ou as de chita florida, os sócos e as tamancas invadem o espaço público, enfeitado pelos lenços coloridos e os cordões de ouro. Homens de calças pretas ou de cotim, lenços tabaqueiros e chapéus pretos ou bonés de trabalho, juntos, fariam parte do desfile de gentes de visita e em trabalho e comporiam o cenário que todos nós conhecemos. Esta é uma iniciativa que mobiliza de forma ímpar as associações do nosso concelho. Implica muita gente, muitas horas de trabalho gratuito e solidário, antes, durante e depois do Mercado acontecer. E, ao mesmo tempo, é uma importante fonte de receitas próprias das referidas associações e, por isso, uma importante fatia do financiamento das suas atividades anuais. A pandemia fez-nos perder muito. Alguns de nós perderam entes queridos e amigos que partiram sem uma despedida digna e sem que, os que o desejavam, lhes pudessem dizer um último adeus… e perdemos também isto. Perdemos o convívio social, a partilha comunitária e o sentimento de pertença que isso implica. Resta-nos a esperança de que estejamos prestes a retomar uma normalidade há muito perdida e da qual temos uma imensa saudade e grande vontade de retomar. O avançar do processo de vacinação a bom ritmo e a almejada imunidade de grupo, ainda no decurso do corrente ano, são o alimento do nosso espírito para vencer este inimigo sem rosto contra o qual lutamos, há já mais de um ano, com armas desiguais e todos protegidos nos nossos bunkers caseiros. Mesmo sem Mercado, comi as papas de vinha d’alho confecionadas magistralmente por um dos tradicionais restaurantes da cidade que não só cozinhou como trajou à moda antiga… - Não. Afinal, a tradição ainda é o que era! * advogada Dê a sua opinião: helenaterra@correiodeazemeis.pt

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