Visão de futuro

Cavaco Silva – de quem politicamente me sinto afastado – procurava dizer que, na política, os maus acabam sempre por afastar os bons. Diz-se, ou pelo menos assim ficou na memória política, que foi este artigo que precipitou a queda do governo de Santana Lopes. 
A propósito dos acontecimentos políticos das últimas semanas, recuperei este artigo nos meus arquivos. Algumas coisas me fizeram refletir.
1. Quando o artigo foi escrito, uma boa parte da direita indignou-se. Sobretudo os que apoiavam o governo, então formado pelo PSD e pelo CDS, acharam inadmissível e injustificada aquela crítica velada de um antigo líder da direita.
2. Quando o artigo foi escrito, uma boa parte da esquerda achou-o interessante ou, pelo menos, não o hostilizou. Afinal, como tudo fazia crer, o artigo criticava o então governo de direita liderado por Santana Lopes, o que até caia bem.
Cavaco Silva nunca criticou muitos dos que, do seu tempo de líder, acabaram a mostrar-se má moeda. Da mesma forma, o mesmo artigo escrito hoje geraria, à direita e à esquerda, as mesmas reações, mas em sentido contrário. É aqui que está, para mim, um dos profundos motivos de reflexão.
Não é o valor da moeda que parece importar. O que parece valer é se a moeda é nossa ou é dos outros. Quando é nossa somos bastantes mais condescendentes com o seu valor. Quando é dos outros achamos sempre que vale menos. Não é preciso ir muito longe, basta pensar na história recente do concelho. 
Devemos por isso, em primeiro lugar, olhar para nós. É sobre os nossos que devemos ser mais exigentes, mais intransigentes e menos tolerantes. Porque é sobre os nossos que temos responsabilidade. É isto que pode mudar a política e o mundo.  
* Presidente da Comissão Política Concelhia do PS